Somos uma constância que não se mede, existe o tempo, mas o etéreo se confunde nos sonhos do eterno, em juras de amor, em movimentos crus demais para um nunca mais existir; somos ínfimas formas de cumprir ciclos e tão enormes nesse mesmo prisma por completude. Posso dizer apenas com a certeza da transformação, que há o que transgredir posto que haja quem se entregar.Corpos herógenos, abatidos, cheio de força, de forma, recalques do vento fluindo entre os cabelos, belezas alternativas confrontando conformismos, a alienação em correntes, fundindo o ferro no sangue quente sob a pele...Palavras para transcrever o beijo, paladares para explicar o prazer que se deleita ameno na história da existência confortável até o extremo insuportável do peso e da leveza.A ''Insustentável leveza do ser'', como disse tão sabiamente Milan Kundera. O poder de despertar diante dos olhos fechados, é provocar arrepio; e foi dessa forma que eu me surpreendi com as entrelinhas do corpo mediante sua própria curvatura, assim que li e recito versos de Victor Hugo, em Trabalhadores do mar:
“(...)O corpo humano é talvez uma simples aparência, escondendo a nossa realidade, e condensando-se sobre a nossa luz ou sobre a nossa sombra. A realidade é a alma. A bem dizer, o rosto é uma máscara. O verdadeiro homem é o que está debaixo do homem. Mais de uma surpresa haveria se pudesse vê-lo agachado e escondido debaixo da ilusão que se chama carne. O êrro comum é ver no ente exterior um ente real. Tal criaturinha, por exemplo, se pudéssemos vê-la como realmente é, em vez de moça, mostrar-se-ia pássaro.Pássaro com forma de moça, que há aí de mais delicado? Imagina que a tens em casa.(...)Deliciosa criatura! Dá vontade de dizer: " Bom dia, mademoiselle...". Não se lhe vêem as asas, mas ouve-se-lhe o gorjeio. Canta às vezes. Na tagarelice está abaixo do homem; no canto, está acima dele. Tem mistérios aquele canto; uma virgem é o invólucro de um anjo. Feita mulher, desaparece o anjo; volta porém, depois trazendo uma alma de criança à mãe. Esperando a vida, aquela que há de ser mãe algum dia, conserva-se muito tempo criança, a menina persiste na moça; é uma calhandra. Pensa-se, ao vê-la: que boa ela é em não bater asas para ir-se embora! (...)”
A continuidade é o sopro de um arrepio, eu entendi isso vivendo, na entrega de um prazer o vívido aprendizado. Eu que já me desnudei num retrato eólico, só posso falar da vida suspirando que nesse mesmo corpo pequeno, saiba-se a intensidade de um infinito - e para o todo além e muito mais de mim; assim que deixarmo-nos no imenso plano da vida, transgredir os horizontes.
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